Descorchados 2017

O evento que já fincou a sua bandeira aqui no Brasil e que todos os players do mercado esperam ansiosos


Espaço Traffô no Descorchados 2017


Garantir a minha vaga neste primoroso evento já nos primeiros dias em que recebi o convite para participar como imprensa, através deste blog que lhes fala, foi realmente um bom sinal de astúcia e inteligência. Astúcia porque o Descorchados é o tipo de evento que todos os winelovers esperam, e sendo assim as suas vagas são limitadas. Inteligência porque participando como imprensa, pude chegar com uma hora de antecedência para escolher ''aquele'' produtor em especial, e realizar uma prova completa de seus vinhos, e isso pode até parecer pouco, - a uma hora - mas vi vantagem. O Descorchados 2017, aconteceu neste ano em um espaço diferente, o Traffô, localizado também no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo Capital. 

Como o evento tem recebido a cada ano um maior número de interessados, a então antiga sede a abriga-lo, a Praça São Lourenço, pareceu "pequena" perante à tamanha procura. Confesso que gostava mais do antigo local, apesar do espaço Traffô ser bastante agradável e plano, e esse é um de seus pontos positivos, mas no dia em questão, que aconteceu o Descorchados 2017 fazia muito calor; e com a quantidade de pessoas circulantes ali, o espaço tornou-se literalmente, se comparado for ao das edições anteriores, o atual pareceu pequeno e bastante abafado.

O que faz o Descorchados ser tão interessante, é que o melhor dos produtores dos países que esse famoso guia audita (Chile, Argentina, Uruguai e Brasil), estão todos lá, apresentando os seus melhores rótulos, todos eles disponíveis a degustação. E quem sabe disso, não perde mesmo a oportunidade de conferi-lo bem de perto.

Buscar algo novo e o raro. Aquele que tem grande qualidade e potencial de ser um grande sucesso no Brasil. Vem ai os meus destaques





Em um evento assim tão grandioso, a participação de produtores conceituados, enchem-nos os olhos de alegria, mas ao vislumbrarmos aquele que é raro, o qual nunca vimos antes, nos dá aquela deliciosa sensação de amor à primeira vista. E assim eu foquei apenas naqueles os quais eu ainda não conhecia, e grandes foram as descobertas. Então vamos aos vinhos?


Conheci a Bodega Aniello, e o seu atencioso fundador e presidente, o Santiago Bernasconi. A Bodega Aniello mantém as tradições italianas da família de alguns dos membros proprietários da vinícola, encontrando, ali, na Patagônia Argentina, a expressão de um terroir perfeito para a vinificação de excelentes vinhos, os quais eu pude felizmente degustar "todos" os rótulos disponíveis para a prova. Os rótulos da Sereia são lindos, inspirados nas tradições da lenda de Sorrento, na Italia, cidade onde mitologicamente povoavam as lindas sereias. Todos os vinhos deste produtor são realmente excelentes, e difícil foi fazer uma seleção entre os seus maiores destaques, portanto listei três que achei impossíveis mesmo não comentar, são eles: Aniello Soil 2015 Blanco de Pinot Noir, de tamanha complexidade, pois nos confunde ao vislumbrar um vinho branco com aromas de frutas vermelhas frescas, pois é um vinho tinto vinificado em branco. Aniello Soil 2015 Corte de Pinot Noir, um vinho 100% de Pinot Noir, cuja as uvas são originárias de vinhas de solos diferentes, ou seja, cascalho, areia e argila, e consequentemente essas parcelas também foram vinificadas separadamente para depois juntar-se em um único mosto. Um Pinot Noir com toda tipicidade dos grandes pinots da Borgonha, evidenciando os seus aromas de frutas vermelhas, especiarias, notas florais e cogumelos, tipo de terra mesmo! Delicioso! Certamente a Pinot Noir se adaptou muito bem ali, no clima frio de Rio Negro, na Patagônia Argentina, originando essa belezura de vinho a qual destaco aqui. Trosseau parcela plantada em 1932 é o grande vinho da Bodega, vinificado a partir da casta francesa de mesmo nome, também de clima frio, com acidez marcante e muita mineralidade. Da Bodega Aniello eu só posso mesmo afirmar que são belíssimos vinhos, importados no Brasil para pela World Wine.


Ainda na Argentina, conheci a Antonio Mas Wines, de Tupungato, no Valle de Uco, região de altitude considerada excelente na produção de grandes vinhos, e lá conheci pessoalmente o Antonio Mas, e seus exemplares muito bem elaborados, onde me surpreendi com os rótulos-arte de traços modernos, fazendo um conjunto perfeito. Amei o Single Vineyard Malbec 2014 e o seu Historia Cabernet Sauvignon 2011. Não muito distante, na mesma mesa de degustação, estavam os vinhos Wine Idea, uma trading que faz a comunicação e marketing de alguns produtores de vinhos. E lá estavam os vinhos do Alba en Los Andes, cuja a excelência é notável só em sentir seus aromas em taças. Seu rótulo Reserva de Potrero 2016 é um Malbec sublime, com muito potencial para envelhecer. Seu enólogo e mais um representante, me explicaram a proposta destes exemplares chamados de Potrero. Potrero é uma espécie de campo de futebol, e então me deram uma boa explicação para isso, para o nome e idealização de seus rótulos: "Sabe o Neymar, que é um grande jogador de futebol, que jogava futebol em campos bem simples? É o que chamamos de favela, periferia, de bairro humilde", e então eu entendi o espírito daquilo. Coisas que crescem e se desenvolvem em lugares bem simples, mas com um potencial de estrelato! Gualtallary, de onde provém a Alba en los Andes, é uma pequena região de terra situada no Valle de Uco, pertencente a Mendoza; uma região de atitude que varia de 1.100 a 1.500 metros acima do nível do mar. Com solos muito particulares, de areia calcária e de ótima amplitude térmica, resulta vinhos que hoje são reconhecidos como uma joia. Em resumo, tanto Antonio Mas Wines com Alba de Los Andes são produtores que ainda não tem importador no Brasil.

Dali parti para um produtor do Chile e degustei um rosé delicioso da Bodegas RE, de Casablanca, Enredo 2016 é o seu nome; um corte de Gewurztraminer e Riesling, com aromas tão evidentes de lichia que parecia que a fruta em questão estava ali, dentro da minha taça. Recebeu 96 Pontos no Descorchados 2017! Outros dois grandes produtores sem importador (ainda) no Brasil, e que merecem tapete vermelho são a Escala Humana, - que por coincidência é também de Gualtallary, Argentina, a qual estava dando o que falar pelo tamanho do seu potencial. Livverá Malvasia 2016 e Livverá Malbec 2015 são os seus vinhos. O primeiro, um Malvasia de expressão adocicada no nariz, porém em boca extremamente frutado e seco, uma quebra total de paradigma; e o segundo um fantástico Malbec, cheio de frutas negras, cassis e baunilha - e a Carauma Wines, lá do Valle de Casablanca, no Chile. Weichafe Sauvignon Blanc 2016, é simplesmente fantástico, com uma expressão vegetal no nariz poderosa! Seu simpático enólogo, Roberto Millán M. , foi quem me serviu. Contou-me que não descende de uma família com raízes na viticultura. "Sou um louco na família, disse-me sorrindo". E eu pensei comigo: e quem dera se todos os loucos fossem assim. Felizes para sempre estaríamos!

Até o próximo post!

Vanda Meneguci

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